quarta-feira, abril 23, 2008

Eduardo Prado Coelho escreveu

Gostava de ter tido a sabedoria para ter escrito o
texto que segue abaixo.
Eduardo Prado Coelho, antes de falecer, teve a
lucidez de nos deixar esta reflexão, sobre nós
todos, por isso façam uma leitura atenta.




Eduardo Prado Coelho - in Público
A crença geral anterior era de que Santana Lopes
não servia, bem como Cavaco, Durão e Guterres.
Agora dizemos que Sócrates não serve.
E o que vier depois de Sócrates também não
servirá para nada.
Por isso começo a suspeitar que o problema não
está no trapalhão que foi Santana Lopes ou na
farsa que é o Sócrates.
O problema está em nós. Nóscomo povo.
Nós como matéria prima de um país. Porque
pertenço a um país onde a ESPERTEZA é a
moeda sempre valorizada, tanto ou mais do
que o euro.
Um país onde ficar rico da noite para o dia é uma
virtudemais apreciada do que formar uma família
baseada em valores e respeito aos demais.

Pertenço a um país onde, lamentavelmente, os
jornais jamais poderão ser vendidos como em
outros países, isto é, pondo umas caixas nos
passeios onde se paga por um só jornal
E SE TIRA UM SÓ JORNAL, DEIXANDO-SE
OS DEMAIS ONDE ESTÃO.

Pertenço ao país onde as EMPRESAS PRIVADAS
são fornecedoras particulares dos seus empregados
pouco honestos, que levam para casa, como se
fosse correcto, folhas de papel, lápis, canetas, clips
e tudo o que possa ser útil para os trabalhos de
escolados filhos ....e para eles mesmos.

Pertenço a um país onde as pessoas se sentem
espertas porque conseguiram comprar um
descodificador falso da TV Cabo, onde se frauda
a declaração de IRS para não pagar ou
pagarmenos impostos.

Pertenço a um país onde a falta de pontualidade é
um hábito;
- Onde os directores das empresas não
valorizam o capital humano.
- Onde há pouco interesse pela ecologia, onde as
pessoas atiram lixo nas ruas e, depois, reclamam
do governo por não limpar os esgotos.
- Onde pessoas se queixam que a luz e a água são
serviços caros.
- Onde não existe a cultura pela leitura (onde os
nossos jovens dizem que é "muitochato ter
que ler") e não há consciência nem memória
política, histórica nem económica.
- Onde os nossos políticos trabalham dois dias
por semana para aprovar projectos e leis que só
servem para caçar ospobres, arreliar a classe
média e beneficiar alguns.

Pertenço a um país onde as cartas de condução
e as declarações médicas podem ser "compradas",
sem se fazer qualquer exame.
- Um país onde uma pessoa de idade avançada,
ou uma mulher com uma criança nos braços,
ou um inválido, fica em pé no autocarro,
enquanto a pessoa que está sentada finge que
dorme para não lhe dar o lugar.
- Um país no qual a prioridade de passagem é
para o carro e não para o peão.
- Um país onde fazemos muitas coisas erradas,
mas estamos sempre a criticar os nossos
governantes.
- Quanto mais analiso os defeitos de Santana
Lopes e de Sócrates, melhor me sinto como
pessoa, apesar de que ainda ontem corrompi
um guarda de trânsito para não ser multado.
- Quanto mais digo o quanto o Cavaco é
culpado, melhor sou eu como português,
apesar de que ainda hoje pela manhã explorei
um cliente que confiava em mim, o que me
ajudou a pagar algumas dívidas.
Não. Não. Não. Já basta.

Como "matéria prima" de um país, temos
muitas coisas boas, mas falta muito para
sermos os homens e as mulheres que o
nosso país precisa.
Esses defeitos, essa "CHICO-ESPERTERTICE
PORTUGUESA" congénita, essa desonestidade
em pequena escala, que depois cresce e evolui
até se converter em casos escandalosos na
política, essafalta de qualidade humana, mais
do que Santana, Guterres, Cavaco ou Sócrates,
é que é real e honestamente má, porque todos
eles são portugueses como nós, ELEITOS POR
NÓS. Nascidos aqui, não noutra parte...

Fico triste.
Porque, ainda que Sócrates se fosse embora hoje,
o próximo que o suceder terá que continuar a
trabalhar com a mesma matéria prima
defeituosa que, como povo, somos nós mesmos.
E não poderá fazer nada...
Não tenho nenhuma garantia de que alguém
possa fazer melhor, mas enquanto alguém não
sinalizar um caminho destinado a erradicar
primeiro os vícios que temos como povo,
ninguém servirá. Nem serviu Santana, nem
serviu Guterres, não serviu Cavaco, nem serve
Sócrates e nem servirá o que vier.

Qual é a alternativa?
Precisamos de mais um ditador, para que nos
faça cumprir a lei com a força e por meio do
terror?
Aqui faz falta outra coisa. E enquanto essa
"outra coisa" não comece a surgir de baixo
para cima, ou de cima para baixo, ou do centro
para os lados, ou como queiram, seguiremos
igualmente condenados, igualmente
estancados....igualmente abusados!

É muito bom ser português. Mas quando essa
portugalidade autóctone começa a ser um
empecilho às nossas possibilidades de d
esenvolvimento como Nação, então tudo
muda...
Não esperemos acender uma vela a
todos os santos, a ver se nos mandam
um messias.

Nós temos que mudar. Um novo governante
com os mesmos portugueses nada poderá fazer.
Está muito claro... Somos nós que temos
que mudar.
Sim, creio que isto encaixa muito bem em
tudo o que anda a acontecer-nos:
Desculpamos a mediocridade de programas de
televisão nefastos e, francamente, tolerantes
com o fracasso.
É a indústria da desculpa e da estupidez.
Agora, depois desta mensagem,francamente,
decidi procurar o responsável, não para o
castigar, mas para lhe exigir (sim, exigir)
que melhore o seu comportamento e que não
se faça de mouco, de desentendido.

Sim, decidi procurar o responsável e
ESTOU SEGURO DE QUE O
ENCONTRAREI QUANDO ME OLHAR
NO ESPELHO.

AÍ ESTÁ. NÃO PRECISO
PROCURÁ-LO NOUTRO LADO.

E você, o que pensa?.... MEDITE!

Eduardo Prado Coelho

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